TOM JOBIM PLURAL EM FOCO
Marcelo Bratke e Camerata Brasil retornam ao TAA com espetáculo em homenagem a Tom Jobim
Um
campo verdejante surge e logo o movimento do trem avisa que a viagem está
começando. No ritmo da locomotiva, acompanhamos a paisagem passar devagar. A
trilha sonora: um “Trenzinho do Caipira” (Heitor Villa-Lobos) guiado pelo
pianista Marcelo Bratke e a Camerata Brasil. Assim
é o embarque no concerto da nova turnê do grupo, iniciada em julho e que passará
por dez cidades brasileiras, chegando em São Luís-MA na próxima quarta-feira (19/09) às 20h no Teatro Arthur
Azevedo (TAA), com retirada de ingressos uma hora antes na bilheteria do teatro.
“Tom Jobim Plural” é a terceira turnê de Bratke em companhia dos jovens instrumentistas da Camerata Brasil (nova formação da Camerata Vale Música) em homenagem a grandes compositores brasileiros e que dialoga com as duas séries de concertos anteriores – “Alma Brasileira” (2008) em homenagem a Heitor Villa-Lobos e “Nazareth – Brasileirinho” (2009/2010) com um programa dedicado a Ernesto Nazareth. Homenagear Villa-Lobos, Nazareth e Jobim integra o projeto que Bratke chama de “Trilogia da Música Brasileira”.
Confira o vídeo de divulgação da turnê |
Assisti
a apresentação realizada na noite de 30 de agosto no imponente Theatro da Paz
em Belém-PA. O concerto emociona pela delicadeza com que traz interpretações de
clássicos conferindo-lhes uma nova leitura, como em “Garota de Ipanema”, guardada
para o final e apresentada de uma nova forma. Ao público, há uma mistura
positiva de surpresa, empatia e originalidade reservada para a execução do
programa. O que se vê no palco é um grupo afinado que une energia e sentimento
às interpretações. A platéia de Belém, por exemplo, correspondeu com sensibilidade, em um
coro que embora tímido, sussurrava as letras das canções acompanhando de
mansinho o piano de Bratke e os rapazes da Camerata Brasil em um belíssimo
espetáculo sonoro, visual e sensorial.
Conhecendo a Camerata Brasil – Originalmente fundada por Marcelo
Bratke com o objetivo de profissionalizar jovens músicos de concerto em
Vitória-ES, a Camerata Brasil nasceu em 2007 como Camerata Vale Música por
conta do vínculo com a patrocinadora do projeto, a mineradora Vale.
Após
a gravação do DVD e a turnê "Alma Brasileira", o vínculo com o projeto Vale Música se desfez e o grupo passou a apresentar-se como Camerata Brasil. A partir
deste ano, o grupo representado pelo pianista Marcelo Bratke oficializou uma
parceria com a Faculdade de Música do Espírito Santo – Fames, atual instituição de onde saem os músicos que
compõem o projeto.
Flutuação
- Conheci o trabalho dos jovens instrumentistas da Camerata Brasil na
ocasião da passagem da turnê “Nazareth – Brasileirinho” por São Luís em agosto
de 2010. Na época, decidi ir ao concerto de última hora e tive uma gratíssima
surpresa ao assistir a um espetáculo primoroso com o repertório do compositor
brasileiro Ernesto Nazareth executado com graça e qualidade pelo grupo. Clássicos como "Brejeiro", "Odeon", "Fon Fon" e "Batuque" integraram o concerto que possui um registro em disco gravado ao vivo no Auditório Ibirapuera e comercializado pelo selo Biscoito Fino.
Desde
então passei a acompanhar o trabalho oriundo das turnês idealizadas pelo
paulista Marcelo Bratke ao lado da Camerata. Tive a honra de ganhar o disco "Nazareth - Brasileirinho" das mãos do maestro e guardo com carinho o presente de poder reviver, de olhos fechados, a passagem do
concerto por aqui a cada audição do belo registro fonográfico. Pesquisando um pouco consegui encontrar o DVD do concerto “Alma
Brasileira”, registro audiovisual da primeira turnê realizada em 2009 com
repertório em homenagem a Heitor Villa-Lobos, uma apresentação
fantástica que também gerou um registro em DVD comercializado pela Biscoito Fino.
Finalmente, após
dois anos da última turnê nacional, Bratke e a Camerata Brasil – em nova
formação: com os talentosos Jean Michel assumindo o clarinete e Lucas de Oliveira o violoncelo -
retornam aos palcos com uma homenagem a Tom Jobim, o maestro maior da nossa
música popular e autor ao lado de Vinícius de Moraes do clássico da Bossa Nova “Garota de Ipanema”.
Para
já ir dando uma ideia do que Bratke e a Camerata reservam ao público de São
Luís, Ensaios em Foco conversou mais uma vez com Léo de Paula, percussionista de 24 anos cujas principais
influências vem dos instrumentos típicos da música brasileira, o repertório e
os solistas contemporâneos de marimba, música cênica para percussão e
instrumentos “étnicos” (oriente e áfrica).
Na breve entrevista abaixo, Léo nos conta um pouco desta nova turnê e
das experiências vividas nos últimos anos, desde a última passagem do grupo por
terras maranhenses.
1) “Tom
Jobim Plural” é a tua quarta turnê como integrante da Camerata Brasil. Entraste
no grupo em 2009 e participaste das turnês “Nazareth – Brasileirinho” (2009 - 2010)
e Brasil Plural (2011). O que o público pode esperar de novidades quanto às
intervenções percussivas neste concerto em especial?
Léo de Paula: A
proposta do espetáculo multimídia “Tom Jobim Plural” está intimamente ligada à
natureza brasileira. Isso influenciou a concepção do instrumental e um pouco da
linguagem de percussão deste repertório.
Surgem
tipos brasileiros distintos, como se passeássemos pelo carnaval e pela tradição
do princípio do século XX, passando por regiões do sudeste e nordeste
brasileiro e encontrando ritmos, e gêneros como Samba-Batucado, Choro, Frevo,
Marcha-Rancho, Maxixe, Capoeira, Baião, Xaxado, e Congo capixaba dentre outros;
até a contemporaneidade com uma pitada ecológica, valendo-me de instrumentos
artesanais, exóticos, sons da mata, apitos de pássaros e outras cores a somar
na realização do concerto interagindo com o vídeo.
2) A
importância e a recepção do público em turnês nacionais e internacionais tem
sentidos diferentes. Gostaria que comentasse a importância da realização de
concertos que levam o repertório de compositores brasileiros de produção
relevante tanto para cidades brasileiras de regiões e referências culturais tão
diferentes quanto para fora do país. O que foi mais marcante para você até
hoje?
Léo de Paula: É
válido descortinar aspectos determinados da cultura brasileira, tanto para os
nativos (que muitas vezes desconhecem até mesmo o que está bem próximo) quanto
para os estrangeiros (vários ainda guardam conceitos “tupiniquins”, a nação do
futebol, o exotismo, etc...) valorizando o que temos de melhor em nossa
composição absolutamente miscigenada. Ocorre difusão da música midiática
brasileira, mas compositores, como os referenciais adotados, não são
devidamente divulgados.
São
muitas experiências marcantes. Seguramente, a receptividade do público sérvio,
bem como a interação com os músicos professores do conservatório de Belgrado
foi inesquecível.
3) Em
dezembro de 2011 você foi premiado no IV Concurso Jovens Músicos – Música no
Museu, obtendo a terceira colocação no prêmio, cujas semifinais e finais da
competição foram realizadas na Escola de Música da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). O que este reconhecimento significa para você?
Léo de Paula: Significou
a abertura de uma absoluta e real expansão das fronteiras para minha prática
artística.
Começar nas baterias das escolas de samba do
carnaval carioca, passar por estéticas múltiplas como big bands de Jazz, regionais
de choro, formações populares, bandas sinfônicas, orquestras sinfônicas, e
culminar com a premiação em uma competição nacional de solistas mistos (todos
os instrumentos competem entre si) revelou a possibilidade de ir mais além...
Afinal, o solista não pode contar com o amparo ofertado no gesto ou olhar do
colega da prática camerística. Enfrenta-se a tensão e o desafio de estar por
conta própria. A busca artístico-musical segue incessantemente.
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